03 dezembro, 2009

Carta a Ronnald Kelps sobre o cinema


Ronnald Kelps, em seu blog, comentou sobre a importância e os objetivos do projeto/evento Maranhão na Tela, uma mostra de cinema brasileiro fora do circuito comercial, totalmente gratuita, que ocorre em diversos pontos da cidade. Segundo ele, "O principal objetivo – além de contribuir para a difusão do cinema brasileiro – é formar uma platéia critica e sensibilizada para produção, a partir da apresentação de novas referências e da troca entre o público e os realizadores."


Caro Poeta Kelps, concordo totalmente que o público maranhense precisa de (na verdade grita por) mais criticidade e criatividade na produção e análise cinematográfica. Mas o que mata o projeto do Maranhão Na Tela é que os organizadores simplesmente lançaram o projeto, esperando que os maranhenses o aproveitassem. Não aproveitam. Hoje fui fazer a cobertura para o jornal impresso do evento na sede de O IMPARCIAL. Estava sendo exibido lá um ótimo filme sobre Jards Macalé, que confesso não o conhecer, mas adorei sua história. Sabe quantas pessoas tinham ali além de mim? 4. Isso atinge o objetivo do evento? Não.
É preciso ter um impulso propagandístico, um tipo de "dominação" ideológica para que a população entenda o quanto o cinema é construtivo. Em vez de faze-lo, fazem para coisas como Bumba Ilha e Marafolia. Você sabe que há um discurso doutrinatório conduzido pela mídia para levar o povo a esses lugares. O maranhense se acostumou a estar suscetível a essas doutrinações midiáticas, e fica de olho fechado para o que foge disso. O mesmo ocorre com os shows e mostras culturais pela cidade. Muito me entristece, quando visito Curitiba, São Paulo ou Brasília, que o Maranhão seja tão rico culturalmente quanto esses lugares (ou mais) e esteja jogando essa cultura no lixo, não a incentivando como deveria.
Não estou dizendo que foi um erro a "não-doutrinação". Em parte é culpa do hábito maranhense de consumir o imprestável. Mas em parte é pelo meio social que o estado possui historicamente: há anos o estado é negligenciado por parte dos circuitos culturais nacionais. Raramente temos aqui peças teatrais e shows nacionais. Só temos bandas de axé, forró e reggae circulando pelo meio "cultural". O que resulta nisso: quando a cultura vem, ninguém a reconhece como o tal.
Não estou aqui para menosprezar o maranhense, até porque o sou. Só digo o que eu vejo e percebo. O Maranhão só não cresce mais, culturalmente, por causa de seu povo.

A situação é crítica.

Um comentário:

M. A. Cartágenes disse...

Realmente o lance é bastante chato porque a programação está ótima, e o fórum realizado nos dias 2 e 3 foram melhores ainda. Como tu mesmo disse, a população não está dando muito crédito. Enquanto as 10 salas do Box Cinemas estão lotadas para ver Lua Nova e aquele lá que brinca ser do fim do mundo, o 2012, programações de interesse e história nossa e de fatos importantes ou pessoas importantes do nosso contexto estão no esquecimento ou indiferença.

É ralado isso tudo, mas fazer o quê? Como escuto de vez em quando: somos 100%, 25% nossa mãe e 25% nosso pai, os outros 50% é o que nós escolhemos sere é aí que está o lance.

Bom texto amigo, te cuida, paz! ^^