26 maio, 2010

Bem feito pra eles

Até agora não li uma única vez que a Veja mencionasse o Maranhão para algo positivo. Mas eu não culpo a revista, afinal, tem muita coisa errada aqui para ser corrigida. E esse é o papel do jornalismo.
Na última edição, saiu uma matéria sobre a compra de votos do PT pelo PMDB, partido da nossa ilustre governadora Roseana Sarney. Achei muito bem feito. Ela vinha com a corda e a âncora achando que podia tudo aqui no Maranhão. Mas não adianta muito. A população que vota nela, em maior parte, não sabe nem que a Veja existe. E se sabe, não vai entender patavinas do que diz a matéria, e vai se perguntar "o que diabos eu tenho a ver com isso?". Isso me entristece profundamente. Primeiro porque não é a primeira, nem a segunda vez que o Maranhão é exposto para o Brasil pelos Sarneys da pior forma possível. Desde que Roseana se meteu a ser Presidente que o Maranhão é tido como um celeiro de idiotice e roubalheira infinita. E PIOR! Sempre as reportagens fazem questão de expor - o que não deixa de ser verdade - que o povo não tá nem aí para a condição medíocre em que se encontra. Na verdade, o povo nas reportagens nem se dá conta de que está em uma situação medíocre. 
O maranhense, não sei porque, é tão fechado no seu mundinho pequeno e limitado, que quase não se abre para qualquer coisa nova que seja. É como se aquela coisa antiga, por mais ruim que seja, pelo menos dá a certeza de que vai estar ali. Enquanto as coisas novas são duvidosas. E fica nesse pingue-pongue: Jackson, Roseana, Flávio Dino, volta Roseana, agora Jackson quer de novo, e Flávio Dino. Tudo bem, a condição social em que se encontra a população não é muito propícia a um entendimento profundo de qualquer coisa que seja. Basta entender o superficial e tá tudo bem. 
Mas uma coisa eu acho engraçada: entra ano, sai ano, e os políticos maranhenses dão para o povo mais e mais do mesmo. Desgosto. E o público só vai reclamar quando aparece isso em rede nacional? Porque?
Se os políticos não tem vergonha disso, faço um apelo: que pelo menos o povo tenha vergonha de si mesmo.

E aprenda. Afinal, eles não se elegem sozinhos, não é?

19 maio, 2010

Pequena opinião sobre a Copa e o mundo


Toda vez que um lugar vai sediar um grande evento, esse lugar vira modinha. Agora é a África do Sul. Praticamente todo canal de TV a cabo que não seja de filme tem alguma coisa especial sobre a África (até canal pornô tem). Nesses três dias que compuseram essa semana, já assisti pedaços de vários no GNT, no National Geographic, no Globo News, e no Discovery. Agora mesmo acabei de assistir uma reportagem no Saia Justa (GNT) sobre mulheres casadas na África do Sul. E todos eles tem algo em comum: embora tentem passar a parte bonita da África, as belas paisagens, a fauna rica, etc, sempre vem a pobreza. Claro, afinal a pobreza de lá não é nada assim tão insignificante... 
Mas certos "tipos" de pobreza chamam a atenção nessas reportagens. A que eu acabei de assistir no GNT falava sobre a poligamia, ou seja, em partes da África do Sul o homem é casado com várias mulheres, que convivem harmoniosamente na casa, se revezam pra fazer o trabalho doméstico. E, no dia, ele tem que transar com aquela que trabalhou. E elas falam isso naturalmente, sabe? Até riram da cara da repórter quando ela disse que poligamia no Brasil é proibido. Mas disseram também que o marido não dá NADA pra elas: não dá roupa, não dá presentes, não dá dinheiro. Nada. Elas tem que conseguir tudo. Elas fazem a própria roupa, elas vão comprar comida com o dinheiro do marido, elas vão cozinhar, elas vão comprar os remédios delas, elas vão comprar as coisas que elas quiserem. Com que dinheiro, eu não sei. Mas elas disseram que compram. E falam isso com muita naturalidade.
Já tinha assistido outras coisas parecidas. Em certas "cidades tribais", se a mulher não tiver o clítores decepado, ela é uma traidora. É um ritual obrigatório. Se fugir é uma coisa horrível pra família. E a mulher ainda é vista como frágil e "domesticável" pelo marido e pela família. E não só a mulher: os homens tem que dar um monte do que tem pra o chefe da religião da tribo. E tem que participar de lutas, eventos sociais degradantes, um monte de coisa estranha. 
Eu digo é mesmo! Coisa estranha!
Aí vem na cabeça toda aquela questão de relativismo cultural, de "enxergar o outro com neutralidade", de "não julgar o outro pela minha cultura", de "não individualizar a minha opinião como se tudo que eu acredito e vivo fosse o correto e ponto final".
Mas convenhamos: uma sociedade onde a mulher é maltratada, mal-comida, dividida, fica ao relento, ainda tem que se subjulgar ao marido, e sem dinheiro nem direito legal nenhum, nem à saúde, é pra ser relativo?
Uma sociedade com uma religião louca que subverte os crentes à situações moralmente degradantes, lhes toma o que tem, obriga-lhes a decepar partes do corpo e pune severamente aqueles que ousam questionar qualquer coisa que seja, é pra ser relativo?
Um lugar que não tem estado, que não tem lei, e que os próprios cidadãos não podem pensar em criar algo parecido porque estão ocupados demais passando fome, necessidades, estão doentes e morrendo, é pra ser relativo?
Pior: todos achando isso altamente natural!

Desculpem, antropólogos. Mas a sociedade ocidental é mais civilizada e avançada, sim. E eu me sinto orgulhoso - e aliviado - de fazer parte dela.

17 maio, 2010

A trajetória de Telephone

Por X-Britney.com

Muito tem se falado em Telephone e Britney Spears, mas nem todos conhecem a trajetória da canção. Bem antes de adotar o nome artístico Lady GaGa, a nova-iorquina Stefani Germanottapassava o tempo compondo para cantores famosos, como a própria Britney Spears, Fergie,New Kids On the Block e Pussycat Dolls. Foi nessa época que ela escreveu a música Telephone — que entrou somente em 2009 no álbum The Fame Monster — em parceria com Rodney Jerkins, LaShawn Daniels e Lazonate Franklin. Quando GaGa se lançou como cantora solo e começou a cair no gosto popular, ela concedeu uma série de entrevistas onde sempre citava Britney Spears de uma forma muito positiva.
“Eu costumava a gritar por Britney e agora eu trabalho para ela. Ela foi a artista mais provocante do meu tempo e eu a amo tanto! Certamente não precisa de nenhuma dica minha. Britney é a rainha do pop e eu fui aprendendo com ela”, dizia GaGa.
Telephone se tornou uma grande obsessão dos fãs após uma declaração da extravagante cantora, que dizia ter escrito a música para Spears antes mesmo de sonhar em ficar com ela.
“Eu escrevi essa música para Britney há muito tempo, e ela simplesmente não quis usar em seu álbum”, explicou. “Mas tudo bem, porque eu amo a música, e é excitante ter que me apresentar com ela agora.”
GaGa teria convidado Spears para cantar com ela a rejeitada canção, mas negou ao seu pedido. A jamaicana Grace Jones esteve na lista de prefêrencias dela, mas também recusou ao convite. Foi então que Beyoncé entrou na jogada e gravou o dueto conhecido por todos. Darkchild, o produtor e também compositor de Telephone, foi bombardeado por mensagens de fãs querendo saber se Britney gravou a música e se poderiam ter acesso à sua versão, ou pelo menos parte dela. Ele exigiu no mínimo 100 mil pessoas o seguindo no Twitter — ou seja, um acréscimo de 88 mil na sua lista — para que “talvez” publicasse a canção na voz de Spears. A repercussão negativa foi imediata e ele tentou se explicar dizendo que a ideia de chegar ao número de seguidores foi apenas uma forma de ter tempo até conseguir a autorização de Britney e as partes envolvidas. Sem demora, ele revelou que a cantora deixou claro que não queria que sua versão deTelephone fosse divulgada, e ele definitivamente não iria contra ao seu pedido. Mas a obsessão dos fãs não parou por aí. Em maio de 2010, o site iLeaks.com surpreendeu ao disponibilizar um trecho da secreta canção na então voz de Spears. Agindo de forma ilegal ou não, o site cobrou a quantia de 750 dólares para quem quisesse ter acesso a versão completa — e um fã norte-americano decidiu pagar para acabar de vez com a história. A versão de Britney foi divulgada em vários sites importantes de música, e até gerou polêmica pois ninguém tinha certeza se era de fato a esperada versão de Spears.
“É uma versão demo, não tem nenhum tipo de mixagem. Não tenho ideia de como isso vazou. Quero dizer a todo mundo que eu fui pego de surpresa com o vazamento da música e eu nunca liberaria alguma coisa sem a aprovação da Britney, de Larry Rudolph ou da Jive Records”, revelou o produtor Darkchild no dia seguinte, confirmando que a versão era mesmo de Britney, apesar de existir uma segunda versão editada ainda guardada com ele.
Até a conceituada revista Rolling Stone não se conteve ao falar sobre Telephone em seu site, e teceu elogios à cantora.
“Telephone realmente parece muito com o sucesso de Britney lançado em 2007, Piece of Me, provando mais uma vez o quanto ela teve impacto sobre a sonoridade do pop atual. As pessoas adoram tirar sarro de Britney, e por que não, mas se Telephone prova alguma coisa, é que Blackout pode ser o álbum pop mais influente dos últimos cinco anos.”

05 maio, 2010

Doce Alice,Chata Alice

Domingo finalmente fui assistir a Alice, de Tim Burton. Não gostei. O filme cortou totalmente a essência da personagem e transformou a história em uma espécie de "Crônicas de Nárnia" mais bizarrinha e interessante. E olha que essa história já passou pelas mãos do Walt Disney, e nem ele a distorceu tanto. Mas eu confio no olhar do Tim Burton, dá para entender que a proposta do filme não era ser cult, era vender ingresso de cinema e ponto final. Tanto que, já no começo do filme, ele deixa bem claro que não vai contar a história original. O filme narra a trajetória de Alice já com 19 anos, e não os 9 do livro. Lá ela está em uma festa da nobreza da Inglaterra, até que descobre que está prestes a ser pedida em casamento. Desesperada, ela foge seguindo o coelho, e vai parar no País das Maravilhas, que ela visitou quando era pequena mas não se lembrava mais. Pela história vão se desenrolando uma série de rodeios estranhos, como por exemplo a história do sumiço das tortas da Rainha de Copas, que tinha no livro, e volta agora. E do Chapeleiro, que foi (pra mim) o personagem que mais sofreu com a adaptação. Ele passou de um cara inteligente por ser louco, a um louco por ser burro. De qualquer forma, o filme já arrecadou mais de R$ 232,6 milhões em sua estreia.
Mas cabe aqui fazer umas pequenas lembranças do que é a verdadeira Alice para que quem assista o filme em cartaz atualmente não comece a achar que o escritor Lewis Carroll era tão limitado quando o roteirista. O livro começa assim:

Se esse mundo fosse só meu, tudo nele seria diferente. Nada era o que é porque tudo era o que não é. Tudo o que é, por sua vez, não seria; e o que não fosse, seria. 
(fala de Alice)

Através dos parágrafos e mais parágrafos do livro, uma série de teorias e propostas filosóficas do autor são colocadas à prova pelas situações do personagem principal. As vezes ele tenta provar que as teorias são furadas. As vezes tenta provar que funcionam. Um exemplo é o conceito de "reflexo do Winnicott", que diz que a personalidade de alguém se forma baseada em um reflexo da criação materna ou paterna. Inclusive um pouco disso "respingou" no filme de Tim Burton, quando várias vezes Alice agiu pensando no que seu pai e sua mãe faziam para ela quando estavam por perto, seja bem ou mal. 
Outro fato é que a história é cheia de simbolismos. O que não é de se surpreender, afinal Lewis Carroll era professor de matemática. No capítulo 7 do livro," O Chá dos Loucos", a Lebre, o Chapeleiro e o Arganaz dão vários exemplos em que o valor do sentido de uma determinada frase não é o mesmo que o valor do contrário da frase. Por exemplo, o Chapeleiro diz uma vez que "Vejo o que como" não é o mesmo que "Como o que vejo". No ramo da matemárica, esse conceito é do da lógica inversa, ou seja, uma determinada operação não dá o mesmo resultado se inverter as posições. No filme, ele também dá exemplos dessa lógica, mas ficaram muito vagos. Não sei porque Tim Burton, que gosta tanto de bizarrices, não quis explorar esse lado do livro.
Mas ao meu ver a grande sacada de Alice é saber quem é ela mesma. Constantemente ela se questiona coisas como "Devo entrar numa festa sem ser convidada?" (quando entrou na toca do coelho), e ela vai se deparando com situações criadas pela própria mente dela (no que parece ser um sonho) para testa-la e para que ela própria se conheça. Vem aí aquele conceito do sonho inconsciente de Freud. Ela passa o filme seguindo impulsos, impulsos, e se deixa levar pela história. A Rainha de Copas poderia ser um outro ego da personagem, com tendências narcisistas. E o Chapeleiro representaria os questionamentos de Alice quanto à vida, o universo e tudo mais.
A história original, no fim, mostra Alice acordando do sonho e tendo as respostas para as perguntas existencialistas que tinha. O filme também mostra isso: no fim ela decidiu o que queria da vida após conhecer a si mesma. E os dois deixam a pergunta: será que nós mesmo nos conhecemos, independentemente da situação em que nos encontramos?


Observações:
- Eu particularmente ADORO a Alice no País das Maravílhas.
- Já li o livro.
- A melhor adaptação é a do filme de 1999, com a Whoopi Goldberg como o Gato.