14 outubro, 2009

Ensaio sobre o cinema brasileiro

O cinema brasileiro sofre um grande dilema. Eu particularmente acredito que esse dilema é causado pela dualidade, pela indecisão de preferência do público brasileiro.

Explico. Eu chamo de dualidade a seguinte questão: o cinema brasileiro deve se moldar, se reinventar, nos moldes estrangeiros (já que são esses que atraem público significativo ao cinema) ou o cinema brasileiro deve criar uma linguagem própria? O que se tem visto é que alguns filmes brasileiros tentam (em vão) plagiar o formato americao ou europeu, só que esse formato não condiz com a real cultura brasileira. O formato estrangeiro meio que torna o que é mostrado irreal, quando inserido no contexto de Brasil. Por outro lado, alguns diretores conseguiram transformar esse formato estrangeiro de forma que parecesse irreal mesmo, só que o filme admite isso. Admitido, passa a usar de outros artifícios para entreter a platéia, como o humor ou o escárnio - e tem se dado muito bem nisso.

Agora, outro ponto: alguns diretores conseguiram lapidar o formato brasileiro de forma que passou a ser uma coisa única, nova, interessante. Chama a atenção do espectador justamente por ser algo que foge do nosso senso comum cinematográfico, e convida quem assiste a participar dessa inovação. Tropa de Elite, apesar de todos os pesares, realizou essa proeza. Só que ela é para poucos. Há diretores que não conseguem dar esse mesmo tom ao filme, e acaba se tornando um daqueles clichês brasileiros - favela, nordeste ou classe média carioca.

Os principais diretores brasileiros já tomaram suas posições quanto ao formato que utilizarão. Fernando Meirelles, por exemplo, é um dos fundadores da vertente nacional americana que deu certo. Porém, seu gosto oscila. Alguns filmes em tons estrangeiros foram um tremendo sucesso. Outros filmes, já com tons brasileiros, caíram na mesmice. Quando ele tentou chegar ao bom tom brasileiro, como em "À Deriva", que co-produziu juntamente com Heitor Dhalia, aumentou demais seu calibre e causou uma distorção: o filme se torna confuso à primeira vista, o que afasta o espectador comum. Já Daniel Filho, diretor de Se Eu Fosse Você, abraçou o formato brasileiro e fez dele uma grande atração, talvez pelos anos que tenha passado na televisão. A verdade é que o formato brasileiro ainda é muito ligado ao formato televisivo. Digo melhor: o público brasileiro é muito televisivo. Não estou aqui para dizer se isso é bom ou ruim, mas é um fato notável. Cabe aos diretores e produtores tomarem sua decisão: arriscarão no escuro com um formato nacional, ou um formato estrangeiro?

Por que eu estou escrevendo este texto afinal? Bom, acabei de assistir o Salve Geral, filme de Sérgio Rezende. E é uma descepção. Mais um filme que tenta ficar na corda-bamba e acaba capengando. Salve Geral trata do desenrolar do dia em que São Paulo parou, quando a facção criminosa PCC ameaçou as autoridades queimando ônibus, carros, atirando em bancos, repartições públicas, etc. Uma espécie de Carandiru paulista.

 Então me veio a cabeça: por que há essa deformação do que tem tudo para ser bom? A melhor resposta para a minha resposta eu tentei resumir acima. Você tem outra para me ajudar?

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