26 agosto, 2010

Está ruim, mas pode piorar

Eu sinceramente acompanho com atenção os horários eleitorais gratuitos (até pra rir, é bom). Mas, este ano, concordo em gênero, número e grau com o que Roberto Pompeu de Toledo escreveu na VEJA desta semana, quando diz que "o horário político na televisão é a hora daquela tristeza de ser brasileiro". Perdeu-se completamente o propósito de se fazer horário político gratuito. Toledo descreve perfeitamente:
Se a campanha é governista, desfilarão exuberantes plantações, obras públicas tocadas em ritmo febril, fábricas funcionando a todo o vapor, povo gozando de escandinavo nível de bem-estar. Se é de caráter nacional, serão mostrados em rápida sucessão o Cristo Redentor e os arranha-céus da Avenida Paulista, uma baiana e um gaúcho em seu cavalo. Tudo isso, claro, se fez presente no programa inaugural de Dilma Rousself, e não foi por acaso: é a campanha mais rica, nacional, governista e com mais tempo na TV. O programa teve ainda mais: uma espetacular sequência em que a candidata, à beira do Arroio Chuí, dialoga com o presidente Lula em rondonia, à beira do Rio Madeira, os dois em posição de aplicar "um abração no nosso povo, um abração do tamanho do Brasil", como disse Lula.
A verdade é ações como essa são o reflexo do estágio mental em que está o brasileiro: vivendo das aparências. No programa dela, aparece o Brasil perfeito, todo mundo sorrindo porque ela vai ser presidente, as grandes paisagens, como se ela tivesse esculpido à mão tudo aquilo, aparece construções enormes como se ela tivesse feito aquilo tudo sozinha, cabo por cabo, centímetro por centímetro. Mal sabe o povo, assintindo o programa dela, que tudo aquilo foi construído com anos e anos de luta do povo brasileiro - não do PT. 

Já no outro dia, o programa dela se resumiu a mostrar uma cena em que ela e Lula estão juntos na frente de uma fábrica às 5 horas da manhã. E Lula diz: "Nunca antes na história deste país, um presidente esteve na porta e uma fábrica para falar com seu povo às 5h da manhã". VOCÊS SABEM POR QUE ELE FEZ ISSO? Porque o TSE determinou que ele estava proibido de fazer campanha política para aliados durante o expediente de trabalho. 
Mas deixei estar do jeito que está. Por mais que digam que, se Dilma ganhar quem vai mandar é Lula, quem vai sentar na cadeira presidencial é ela. Quem vai tomar o cafezinho presidencial é ela. Quem vai morar no palácio é ela, quem vai receber visitas importantes é ela, quem vai ser recebida pela rainha da Inglaterra é ela, quem vai ter de resolver pepinos internacionais é ela. E o que ela vai fazer com tudo isso na mão? O povo tem a obrigação de saber desde já!

Por isso  é preciso que o horário eleitoral seja usado da forma para a qual ele foi criado. Para mostrar quem é o candidato, e no que ele acredita. Deveria haver, pelo menos, um horário delimitado para que ele fale obrigatoriamente em pessoa.Talvez com isso diminuíssem os gigantescos gastos com produções políticas dignas de filmes de Hollywood. Onde já se viu um programa político onde só aparecem aliados, cenas do Brasil, atores contratados, algumas pessoas entrevistadas, e o candidato, que é o principal, não fala?
Foi assim com Ricardo Murad, em um programa eleitoral dele que eu assisti nessa semana. Durante o tempo dele, Lula falou, Roseana falou, o narrador falou. Ele falou? Não.
Se o candidato falasse mais do que mostrasse cenas externas, jingles bonitinhos e aliados poderosos, o povo saberia quem eles realmente são. Porque isso não acontece? Estão com medo do que? Bom, convenhamos, pior é o povo que não percebe. E se na campanha eleitoral, a atuação já começa assim, o que será de nós quando os mascarados estiverem no poder? Se a máscara cair ou não, já vai ser tarde.

Realmente, Roberto. O horário político na televisão é a hora daquela tristeza de ser brasileiro.

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